O autor deste texto é Miguel von Hafe Pérez, crítico de arte e comissário de várias exposições e actualmente o responsável pelo projecto Anamnese da Fundação Ilídio Pinho, onde integra o Conselho das Artes que está a constituir uma colecção de arte contemporânea portuguesa.
O autor é grande conhecedor da obra de Gerardo Burmester escreveu diversos textos e artigos sobre este artista, entre os quais esta recessão crítica sobre a sua última exposição que está publicada no catálogo. São estas as razões que me levaram a escolher este recenssão.
A abordagem deste texto é desenhada por Miguel von Hafe Pérez em três escalas. Inicia por relatar um quadro sociológico em que obra e artista interagem e intervêm, passando para a esfera da Estética, onde, citando Steiner, o autor reforça que a consciência individual interfere em termos de identidade da própria obra. Estas duas etapas têm o seu desfecho com uma inclusão no processo que a Estética teve ao longo da Historia da Humanidade, concretamente da Historia da Arte.
Já o título do texto é esclarecedor da dualidade existente na obra de Burmester em geral, e desta exposição em particular.
O autor faz uma primeira abordagem sociológica, na medida em que alerta o leitor para o nosso meio artístico que sem maturidade crítica só é capaz de apreciar a arte dentro de aspirações que lhe são contemporâneas, tais como a moda. Esqueceram este artista que tem uma posição singular no panorama artístico contemporâneo português, bem como a sua obra, de rara coerência, rotularam-no de arrogante e crucificaram-no por se ter distanciado algum tempo do nosso meio.
Como em muitos textos de Miguel von Hafe Pérez sobre este artista, o autor aborda a ironia e a deceptividade presente em toda a sua obra. Essa ironia vai-se processar sobre os sinais do tempo. Esta ironia que Gerardo Burmester trabalha é uma ironia que já vem da sua obra dos anos 70, no pós 25 de Abril, onde Burmester citava ironicamente uma portugalidade, isto é, um D. Sebastião ou a bandeira nacional de um Portugal limitado à suas próprias obsessões. Para o autor do texto, mais do que repor narrativas mitificantes, Burmester ao utilizar esta ironia impõe um silêncio sobre o seu trabalho, que a torna incomunicável. Ele mantém uma relação irónica e critica com a própria contemporaneidade e desconstroi alguns dos seus paradigmas máximos, logo pelo facto de trabalhar materiais luxuosos e exuberantes e ainda por muitas das vezes não os trabalhar manualmente.
A deceptividade segundo o autor afasta o espectador de uma interpretação da obra, na medida em que os objectos, neste caso os acrílicos, convocam uma emoção, uma aparente fácil leitura, que depois não permite a inteligibilidade da mesma.
A palavra oximoro utilizada pelo autor reforça as duas expressões plásticas opostas, a da exposição dos acrílicos e a da instalação e ao mesmo tempo traduz ao leitor a dualidade também existente na exposição em si, entre os acrílicos e as peças de chão.
Como a própria definição linguística da palavra o diz, o oximoro harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando uma terceira que depende da interpretação do leitor. Burmester consegue – o e o autor também.
O leitor compreende a eficácia da exposição, que joga com este Apolo e Dionísio. Enquanto que as sobreposições dos acrílicos frios, formais e apolíneos remetem para a conceptualidade deste material, que lhe confere uma dimensão profunda, fechada sobre si própria. Na instalação o ambiente é de prazer sensorial, através das cores quentes e das formas arredondadas, que nos levam a crer que há uma fácil interpretação da obra, mas rapidamente o observador se apercebe que a obra não permite ir mais alem dos sentidos, ela não comunica. Este contraste do conforto / desconforto distanciam o fruidor.
Na abordagem historiográfica, o autor menciona a relação com determinados movimentos, nomeadamente o Minimalismo, a Abstracção geométrica e o Construtivismo russo; classifica-os mas sem rotular o artista. Von Hafe Pérez considera a que apesar das peças de chão[1] de Burmester remeterem para o Minimalismo, pela suas formas depuradas e na medida em que o artista utiliza materiais industriais, estes objectos nada têm a ver com este movimento, que reclama o espaço para a leitura da obra, condicionando-o. Miguel von Hafe Pérez evoca ainda os jogos de sedução de Jean Baudrillard. Este afirmava que qualquer exercício artístico era um jogo de sedução, porque a própria relação humana é de poder e de sedução, como dois pólos que se atraiem e se afastam. Isto está presente na obra de Burmester.
O autor é grande conhecedor da obra de Gerardo Burmester escreveu diversos textos e artigos sobre este artista, entre os quais esta recessão crítica sobre a sua última exposição que está publicada no catálogo. São estas as razões que me levaram a escolher este recenssão.
A abordagem deste texto é desenhada por Miguel von Hafe Pérez em três escalas. Inicia por relatar um quadro sociológico em que obra e artista interagem e intervêm, passando para a esfera da Estética, onde, citando Steiner, o autor reforça que a consciência individual interfere em termos de identidade da própria obra. Estas duas etapas têm o seu desfecho com uma inclusão no processo que a Estética teve ao longo da Historia da Humanidade, concretamente da Historia da Arte.
Já o título do texto é esclarecedor da dualidade existente na obra de Burmester em geral, e desta exposição em particular.
O autor faz uma primeira abordagem sociológica, na medida em que alerta o leitor para o nosso meio artístico que sem maturidade crítica só é capaz de apreciar a arte dentro de aspirações que lhe são contemporâneas, tais como a moda. Esqueceram este artista que tem uma posição singular no panorama artístico contemporâneo português, bem como a sua obra, de rara coerência, rotularam-no de arrogante e crucificaram-no por se ter distanciado algum tempo do nosso meio.
Como em muitos textos de Miguel von Hafe Pérez sobre este artista, o autor aborda a ironia e a deceptividade presente em toda a sua obra. Essa ironia vai-se processar sobre os sinais do tempo. Esta ironia que Gerardo Burmester trabalha é uma ironia que já vem da sua obra dos anos 70, no pós 25 de Abril, onde Burmester citava ironicamente uma portugalidade, isto é, um D. Sebastião ou a bandeira nacional de um Portugal limitado à suas próprias obsessões. Para o autor do texto, mais do que repor narrativas mitificantes, Burmester ao utilizar esta ironia impõe um silêncio sobre o seu trabalho, que a torna incomunicável. Ele mantém uma relação irónica e critica com a própria contemporaneidade e desconstroi alguns dos seus paradigmas máximos, logo pelo facto de trabalhar materiais luxuosos e exuberantes e ainda por muitas das vezes não os trabalhar manualmente.
A deceptividade segundo o autor afasta o espectador de uma interpretação da obra, na medida em que os objectos, neste caso os acrílicos, convocam uma emoção, uma aparente fácil leitura, que depois não permite a inteligibilidade da mesma.
A palavra oximoro utilizada pelo autor reforça as duas expressões plásticas opostas, a da exposição dos acrílicos e a da instalação e ao mesmo tempo traduz ao leitor a dualidade também existente na exposição em si, entre os acrílicos e as peças de chão.
Como a própria definição linguística da palavra o diz, o oximoro harmoniza dois conceitos opostos numa só expressão, formando uma terceira que depende da interpretação do leitor. Burmester consegue – o e o autor também.
O leitor compreende a eficácia da exposição, que joga com este Apolo e Dionísio. Enquanto que as sobreposições dos acrílicos frios, formais e apolíneos remetem para a conceptualidade deste material, que lhe confere uma dimensão profunda, fechada sobre si própria. Na instalação o ambiente é de prazer sensorial, através das cores quentes e das formas arredondadas, que nos levam a crer que há uma fácil interpretação da obra, mas rapidamente o observador se apercebe que a obra não permite ir mais alem dos sentidos, ela não comunica. Este contraste do conforto / desconforto distanciam o fruidor.
Na abordagem historiográfica, o autor menciona a relação com determinados movimentos, nomeadamente o Minimalismo, a Abstracção geométrica e o Construtivismo russo; classifica-os mas sem rotular o artista. Von Hafe Pérez considera a que apesar das peças de chão[1] de Burmester remeterem para o Minimalismo, pela suas formas depuradas e na medida em que o artista utiliza materiais industriais, estes objectos nada têm a ver com este movimento, que reclama o espaço para a leitura da obra, condicionando-o. Miguel von Hafe Pérez evoca ainda os jogos de sedução de Jean Baudrillard. Este afirmava que qualquer exercício artístico era um jogo de sedução, porque a própria relação humana é de poder e de sedução, como dois pólos que se atraiem e se afastam. Isto está presente na obra de Burmester.
O texto apela ainda a uma característica belíssima na obra de Burmester, ao qual o autor chama comentário virado ao avesso, que é o facto de Burmester retirar a carga simbólica aos objectos. Burmester não nos impõe as propriedades dos materiais, nem a utilidades dos objectos; o artista desloca funções, utilidades e experiências. Com a sua obra aprendemos a fruir sem procurar rótulos ou identidades. A sua obra é representada sem compromisso ilusionista ou de forçosa interpretação. E não é a arte um instrumento que pode representar momentos fora do nosso ciclo de experiências e hábitos, de modo a podermos ver as coisas de uma forma desinteressada e sem preconceitos ou hierarquias?
É isto que o autor nos pretende transmitir com este texto. É preciso entender na sua obra o que está por trás de toda a evolução artística. A obra de Gerardo Burmester é um
processo de chegada, e não um ponto de partida. Este díptico expositivo manipula o espectador, baralhando-lhe os sentimentos e as sensações, fazendo-o reflectir sobre a verdadeira essência da arte, na nossa era cada vez mais camuflada e codificada.
É isto que o autor nos pretende transmitir com este texto. É preciso entender na sua obra o que está por trás de toda a evolução artística. A obra de Gerardo Burmester é um
processo de chegada, e não um ponto de partida. Este díptico expositivo manipula o espectador, baralhando-lhe os sentimentos e as sensações, fazendo-o reflectir sobre a verdadeira essência da arte, na nossa era cada vez mais camuflada e codificada.
[1] Esculturas, por nós denominadas Móveis sem Função dado serem móveis impossíveis, Numa primeira análise parecem móveis comuns ao espectador, mas observados mais atentamente são falsos móveis com funcionalidades inexistentes.
1 comentário:
Thanks for sharing your thoughts on ab glider.
Regards
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